Ironic

07, March 2007 - 02:55 am




hoje, ouvi uma canção na rádio. uma canção com alguns anos, que toda a gente conhece. uma canção que ouvi vezes sem conta, durante metade da minha vida.

mas hoje, dei conta de que a elevada simularidade da canção neutralizou o seu valor. e com um "plim" no cérebro, acordei para a mensagem que a canção transmitia. para a sua verdadeira qualidade lírica, dissimulada por tanta simulação. e agora, ao final de doze anos, é capaz de ser uma das minhas canções favoritas. é um concelho para a vida, um abre os olhos, um segue em frente. uma canção que me dedicaria a mim mesma e a ti mesmo.

e quantas mais coisas haverá, que o ser humano não abstrai, adormecido pelo quotidiano. coisas que estão ali, diante do olhar, que poderiam revirar uma vida. e ele não se dá conta.

and isn't it ironic... don't you think?

-Ruth

I Started a Joke

18, October 2006 - 11:30 pm
[my mom's reflex in a mirror of an old house. photoshop free.]

Inventei uma piada em que o mundo começava a chorar. No entanto, não sabia o que me esperava...

Um dia comecei a chorar e o mundo riu-se de mim. E então reparei que afinal a piada se tinha voltado contra mim.

Até que eu morri e o mundo continuou a viver...

Bee Gees - I started a Joke

A Menina do Espelho

11, November 2005 - 07:43 pm


Quando era pequena, adorava passar horas em frente ao espelho. Dentro dele, encontrava uma menina que me imitava em tudo. Além de ser igual a mim, tinha o mesmo quarto que eu: os mesmos peluches, as mesmas bonecas, a mesma cama, os mesmos desenhos pendurados na parede. Enquando brincava olháva-a, ela brincava também e parava para me olhar ao mesmo tempo que eu.
Diziam-me aquele era o meu reflexo no espelho, coisa na qual nunca tinha acreditado. Para mim, aquele rectângulo era uma janela que interligava dois mundos distantes onde, do outro lado, se encontrava uma menina que um dia decidiu fazer-me companhia. Criou um mundo igual ao meu, brincadeiras iguais às minhas mas que, na minha ausência, saia do quarto e voltava ao seu mundo, um mundo onde tinha tudo o que queria, onde os pais nunca ralhavam com ela, onde todos o meninos queriam brincar com ela, tinha muitos mais brinquedos do que eu, muitos animais, um casarão enorme, ou seja, o mundo com o qual sonhava eu.
Um dia, quis ir ter com ela. Tentei entrar no espelho, mas não conseguia. Com tantas tentativas, acabei por parti-lo e vi então a menina, igual a mim, o meu mesmo quarto, as minhas mesmas coisas, ali nos cacos, partidas aos bocados. Assustada, olhei em redor, com medo que o mesmo tivesse acontecido à minha casa. No entanto, as minhas paredes continuavam estáticas, os meus brinquedos no mesmo sítio. A única diferença era aquele espelho, aos bocados, espalhado pelo chão. A minha mãe iria ficar chateada. No entanto, fiz um sorriso maroto. Peguei na minha boneca favorita, abracei-a e fui ter com os meus amigos à rua. Afinal, até tinha feito por merecer a bronca que mais tarde iria levar. Além disso, para que quereria eu mais brinquedos, se só dava atenção àquela boneca? E para quê quereria mais amigos, se era tão divertido meter-me com quem não gostava? E apesar de não viver num casarão, conseguia transformar o meu apartamento no planeta inteiro.
No final de contas, mais era impossível eu nao ter.
Afinal, para alá do espelho, encontra-se um mundo perfeito, se souberes ver a felicidade reflectida no que te rodeia.
-Ruth

Loucuras

25, October 2005 - 11:37 pm
[note the flags detail]

Quando as saudades fazem cócegas ao amor este, irrequieto, acaba por fazer loucuras.
-Ruth

Alice

19, October 2005 - 08:30 pm


Há 193 dias, a Alice desapareceu. De três anos, cabelos castanho-claros encaracolados, vestia um casaco azul.
Hoje, a Alice continua desaparecida. Hoje, como ontem, um pai acorda cedo, veste-se. Vai à lavandaria, compra um bonequinho ao mendigo, apanha o metro, dirige-se ao infantário. Mas hoje, esse pai não leva uma menina pela mão. Não. Hoje vai só, hoje recorda, hoje sente-a consigo. Hoje, comprou o 193º bonequinho ao mendigo. Hoje, seria o seu 4º aniversário. Hoje, a casa não está cheia de gente, de alegria. Hoje, as batatas fritas congeladas têm todas o mesmo tamanho e fica no ar o porquê, cuja resposta não interessa, hoje tenta-se simplesmente distrair as lágrimas.
A Alice, uma criança. A Alice, o passar dos dias. A Alice, as lágrimas. A Alice, a frustração. A Alice, o desespero. A Alice, a loucura. A Alice, a saudade. A Alice, a busca. A Alice, a incógnita. A Alice, uma realidade. A Alice, uma vítima. A Alice, um Alexandre, uma Cláudia, um Jorge, uma Sofia, um Rui Pedro. A Alice, um Apelo.
E hoje, a Alice cruzou-se com o pai. Mas hoje o pai desistiu. Hoje, ela não passou de mais uma miragem. A partir de hoje, não haverão mais esperanças quebradas pela frustração. Não haverão mais Alices na multidão. A partir de hoje, a Alice será somente uma uma recordação dolorosa, uma filha desaparecida, uma parte de si, uma parte da mãe. A partir de hoje, a vida e o quotidiano seguirão o seu ritmo.
A partir de hoje, não haverá mais Alice.

Hoje fui ver "Alice", um passo na evolução do cinema português. E chorei.
-Ruth
(review on a portuguese movie/masterpiece, showing the reality the childrens' kidnapping for unappropriate pruposes)

Fuma Mais

17, October 2005 - 11:36 pm

No outro dia fui, mais um grupo de amigos, à festa de recepção ao caloiro do I.S.C.T.E., em Lisboa. Uma festa já com uns bons anitos de grande prestígio, dizem, o qual não duvido tendo em conta os milhares de jovens que se encontravam à espera para entrar, apesar do não muito simpático preço do bilhete.
Mas bem, numa festa como esta, não falta a vontade às marcas de oferecer patrocínio, pois é uma grande oportunidade para fazer publicidade. No entanto, qual não foi o meu espanto quando, à entrada do recindo, estava algo mais que um par de raparigas bem apresentadas, de canetas flourescentes, a assinar maços de tabaco que tiravam das bolsas p'ra dar aos meninos, que não eram poucos. Ora, segundo tenho dado conta, últimamente têm havido imensas campanhas anti-tabaco, desde a Europeia campanha do "Feel Free to say No" a anúncios publicitários em todos os media, assim como medidas tomadas pelo governo como a adição de avisos aos maços de tabaco, a pendente lei que proibirá o consumo de tabaco em locais fechados e a proibição da venda de tabaco a menores de 16 anos. Tendo em conta que o tabaco é altamente viciante, para que servem estas leis e campanhas se, por trás, existem distribuições gratuitas em massa de maços de tabaco à juventude inconsciente que já pouco fuma? Sem contar com o facto de que muitos dos presentes seriam menores de 16 anos não existindo, em nenhuma ocasião do evento, o menor controle de idade.
Promover o consumo de bebidas alcoólicas aos jovens num país cuja enorme parte dos acidentes se deve à elevada taxa de alcoolemia já é mau o suficiente. Agora promover a maior causa de inúmeros problemas de saúde (como o cancro, tromboses, doenças vasculares, úlceras, problemas nas vias respiratórias, esterelidade, amputações, envelhecimento precoce, impotência, entre imensos outros) que afecta não só quem consome, mas quem rodeia o consumidor (eu que o diga, que depois de passar um mês e meio em contacto com fumadores altamente activos, ainda não me consegui livrar desta tosse e dores de garganta que me chateiam constantemente), é o cúmulo.Senhores donos destas grandes empresas de produção de tabaco, deviam ter vergonha por se aproveitarem da natural inconsciência da juventude desta maneira. A publicidade, a ambição de vender cada vez mais e a ganância está a chegar ao extremo. Daqui a uns anos é que se vai notar o caos. Por enquanto, ainda parece que está tudo bem.
Nestas festas, aproveitem antes para oferecer preservativos.
Mais vale promover nos jovens a foda segura, que fodê-los.
Tenho dito.

-Ruth

(against a cigerrettes promotion at a Univertity's party I've been to, where smokers were gladly offered free packets of cigarrettes, including the less than 16 years old kids that had come into the institute to join the fun. Jul '08)

Fluindo

16, October 2005 - 10:35 pm


Porque sou assim. Não existo. Sou uma imagem, um fantasma, sou assim como que vegetal. Por dentro, estou vazia. Não penso, não vivo. Deixo-me simplesmente levar, serena, pelos dias que passam lentamente, a cada segundo. Estou na boa. Isto é uma paz, nada temo. Perdi a lucidez e por aí vagueio em coma, presa neste sono. E então, ingnorando todo o resto, continuo a fluir...
-Ruth